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segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Alceu Wamosy: Duas Almas

Alceu Wamosy: Duas Almas

Não poderíamos iniciar este blog com outro poema, que não esse, Duas Almas, de Alceu Wamosy, porquanto esse poema tem um quê de genialidade inspiradora, é magistralmente romântico sem a peja da antiguidade que os jovens de hoje, os quais, num retorno ao passado, ressuscitaram o predicativo "cafona".

É! Nada há de cafona nesse poema. Aliás é um poema moderno e não o é mais, unicamente por conta da forma e da fôrma obrigada pela escolha de sua produção por meio do Soneto, vez que o poema seria realmente ultramoderno se fossem suprimidos os versos 3.º, 4.º, 5.º e 6.º., os quais, venhamos e convenhamos são realmente cafonas.


No mais, todas as letras são puras e essenciais e necessárias para dar ao poema o seu predicativo de um clássico universal, como um dos Sonetos mais lindos do Simbolismo em língua portuguesa, conforme bem detalhou Salomão Sousa(¹), ou seja, ultrapassará a história da humanidade e, se o Homem sobreviver após o holocausto do fim do Planeta Terra (já previsto para dentro de aproximadamente um bilhão de anos), esse poema subsistirá, e subsistirá até mesmo além da raça humana, posto que daqui a um bilhão de anos alguma civilização poderá até existir, mas não será nada comparável ao que hoje denominamos de "corpo humano", biologicamente falando.


Bom, mas não viemos aqui falar dos fins dos tempos e sim das coisas boas da arte literária, e o poema DUAS ALMAS de Alceu Wamosy é uma obra prima e seria mais ainda, se não fosse um soneto, posto que, conforme já explanamos, os versos do 3.º ao 6.º são -- com certeza --  um apêndice, ou pior, pois o apêndice tanto faz como tanto fez; no entanto esses versos capengas estão a atrapalhar a obra de arte "Duas Almas", de ser o poema mais que perfeito da escola romântica do Simbolismo.


Se se cortasse-os e passássemos diretamente do segundo verso para o sétimo verso, o poema estaria na mais alta perfeição e totalmente ultramoderno.

Assim, o publicaremos na forma ultramoderna, sem os quatro versos capengas transformando o Soneto num Poemeto, e mais adiante, você, prezado leitor amigo, prezada leitora amiga, poderá ler, logo após, a obra original, em forma de soneto, conforme bem deseja Salomão Sousa².

¹ SOUSA, Salomão, in: http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/distrito_federal/salomao_sousa.html

² Idem, in: http://cadernos-de-literatura.blogspot.com.br/2013/01/duas-almas-alceu-wamosy.html






 DUAS ALMAS

(Alceu Wamosy)


"Ó tu, que vens de longe, ó tu, que vens cansada,
entra, e, sob este teto encontrarás carinho:
Entra, ao menos até que as curvas do caminho
se banhem no esplendor nascente da alvorada.

E amanhã, quando a luz do sol dourar, radiosa,
essa estrada sem fim, deserta, imensa e nua,
podes partir de novo, ó nômade formosa!

Já não serei tão só, nem irás tão sozinha:
Há de ficar comigo uma saudade tua!
Hás de levar contigo uma saudade minha!"
(Alceu Wamosy)

Viram? Que maravilha de poema? Completo. Completíssimo. O Soneto foi assassinado para o bem da arte, mas você, especialmente se for um sonetista purista, poderá ler adiante o Soneto Duas Almas de Alceu Wamosy, na forma da fôrma de um soneto, como foi originalmente composto.




DUAS ALMAS

(Alceu Wamosy)


"Ó tu, que vens de longe, ó tu, que vens cansada,
entra, e, sob este teto encontrarás carinho:
Eu nunca fui amado, e vivo tão sozinho;
vives sozinha sempre, e nunca foste amada.

A neve anda a branquear, lividamente, a estrada,
e a minha alcova tem a tepidez de um ninho.
Entra, ao menos até que as curvas do caminho
se banhem no esplendor nascente da alvorada.

E amanhã, quando a luz do sol dourar, radiosa,
essa estrada sem fim, deserta, imensa e nua,
podes partir de novo, ó nômade formosa!

Já não serei tão só, nem irás tão sozinha:
Há de ficar comigo uma saudade tua!
Hás de levar contigo uma saudade minha!"
(Alceu Wamosy)

ALCEU WAMOSY

(1895 — 1923)

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